COLÔNIA SÃO PEDRO DO PINDARÉ-MA (1845-1881)
Karilene
Costa Fonseca
Juciene Ricarte Apolinário
Resumo: A presente Comunicação é parte das reflexões para a elaboração de uma Dissertação de Mestrado em História, a partir das pesquisas das fontes acerca da Colônia de São Pedro do Pindaré. Trata-se da aldeia Adega Grande de São Lourenço de Barbados, fundada em 1758, sendo a primeira aldeia no Maranhão Império. Ao ser elevada à categoria Colônia em 1840, concretizou-se a primeira tentativa de missão indígena no Maranhão, objetivando facilitar as navegações pelo rio Pindaré, uma vez que os índios Guajajara habitantes nas margens desse rio tornavam o acesso e o trânsito dos não indígenas arriscadíssimo, pois os índios atacavam as embarcações. Na busca de superar tal situação, o então Presidente da Província, o Marquês de Caxias, ordenou que se fundassem uma Colônia a direita do dito rio, com o nome São Pedro do Pindaré, sob as ordens do Diretor Tenente Coronel Fernando Luís Ferreira. Entretanto, o que de fato pretendia com a elevação desta aldeia a categoria de Colônia, era evitar que os índios se associassem aos revoltosos da Balaiada, visto que, as principais lideranças desse movimento estavam próximas daquela região. Os documentos analisados para discussões correspondem a Diretoria dos Índios: são ofícios trocados entre os diretores da Colônia e os presidentes da Província, relatórios dos presidentes da Província e correspondências dos missionários “barbudinhos” (Capuchinhos). O recorte temporal escolhido ocorreu em virtude da variedade documental existente. Objetivamos a partir de tratamento teórico metodológico dessas fontes, problematizar o teor reproduzido em falas etnocêntricas que expressaram sobre os índios como meros expectadores do processo de colonização, onde, todavia é possível observar nas entrelinhas dos argumentos encontrados na documentação as diversas vozes ameríndias resistindo ao processo das tentativas de pacificação dos índios pelos brancos colonizadores.
INTRODUÇÃO
Os estudos sobre o lugar do índio na história
do Brasil está em estágio embrionário. Mas, contudo, podemos observar o
crescente interesse de historiadores e pesquisadores de áreas afins pela
história indígena, investigando estes sujeitos em variados processos
históricos, na perspectiva de entendê-los enquanto primordiais para compreensão
da identidade nacional. Trata-se, sobretudo de enxergá-los atualmente como
protagonistas na história do Brasil, os compreendendo no contexto geral na
história escrita, e não como membros à parte do processo civilizatório. Como
narra Regina Celestino:
Nas ultimas décadas, no entanto, os estudos históricos sobre eles
têm se multiplicado e contribuindo para desconstruir visões equivocadas e
preconceituosas sobre suas relações com os colonizadores. De personagens
secundários apresentados como vítimas passivas de um processo violento no qual
não havia possibilidade de ação, os povos indígenas em diferentes tempos e
espaços começam a aparecer como agentes sociais cujas ações também são
consideradas importantes para explicar os processos históricos por eles vividos
(2010,p.10).
A escritora esmiúça a
importância das pesquisas com índios, para assim potencializar a visibilidade
deles na história do Brasil. Dessa forma os estudiosos de índios se desdobram
em narrativas que maximizam esses agentes nos seus diversos processos de
contatos com não indígenas, com a finalidade de apresentá-los a comunidade
acadêmica, enquanto agentes sociais. Isto é: desconstruir o olhar
positivista de Varnhagen3, que na verdade era o olhar do colonizador
português, que promulgava o pensamento que o índio não tinha história, e sim
etnografia. Com isso iluminando o pensamento dos intelectuais do século XIX, no
discorrer da escrita sobre História do Brasil, sobre esses gentios,
conceituados por Varnhagen, desapareciam após agregados a grande massa geral da
nação. Uma história patrocinada pelo Instituto Histórico Geográfico
Brasileiro-IHGB4, relacionada à construção do Estado nacional.
Realizava-se,
nesse sentido, uma história oficial, patrocinada pelo poder político e fiel a
ele. Durante a fase imperial da história do Brasil, especialmente aquela que se
dirige ao II Reinado. Criado em 1838, o IHGB se auto-representará enquanto fala
oficial na tentativa de realizar a tarefa de sistematizar uma produção
historiográfica capaz de contribuir para o desenho dos contornos que se
pretendia definir para a jovem nação brasileira. A história desenvolvida pelo
IHGB, certamente, teria então de se relacionar com a ideia de um passado
mítico, no qual o Império do Brasil pudesse se identificar e se vangloriar.)
3 Francisco Adolfo Varnhagem (1854)
desejava a elaboração de uma memória seletiva e idealizada sobre seu passado,
recordando os elementos positivos, mistificando outros e esquecendo aqueles
que, naquele momento, pudessem atrapalhar o projeto imperial de construção da
nação.
4 O Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro foi fundando em 21 de outubro 1838 e tem por finalidade
preservar a cultura nacional, estimular os estudos históricos, geográficos e
outras ciências sociais sobre o Brasil e reunir e divulgar documentos relativos
a sua formação e identidade, com vistas a preservação da memória nacional.
Fonte: http://www.ihgb.org.br/acessado
em 23 de abril, 2014.
A historiografia
brasileira, grosso modo, foi influenciada pelo Instituto Histórico Geográfico
brasileiro- IHGB, assim tratando os indígenas como meros coadjuvantes no
processo histórico. A vista disso não é tarefa fácil, identificar e catalogar
os documentos, e investigar os processos de colonizações, concepções que
envolveram indígenas, tarefa árdua. Para Le Goff esses documentos que retratam
os agentes sociais outrora “esquecidos” pela história, que foram produzidos
pelos dominantes, estão impregnados de ideologias. Por isso, é precavido aos
investigadores cuidado com essas fontes, ou seja, exigência no respaldo para
com elas, para que as vozes dissonantes, destarte aqueles ignorados pela
escritura, reassumam seu lugar na história, nos quais, são personagens
principais. Em diálogo com Ricardo Medeiros, concordamos que é preciso entender
o presente em que estão inseridos os povos indígenas, articulando sob os
escritos subterfúgios que proporcionem visibilidade a essa história pouco
conhecida por nós, compreendendo a importância deles e reafirmando a sua
etnicidade.
É preciso destacar a
contribuição fundamental do historiador John Monteiro que priorizou os estudos
com a temática indígena, como propôs: “não é fazer a crônica dos índios que
tombaram e morreram, mas deixar de demarcar a necessidade de fazer-se, também,
a história dos que viveram na esfera da sociedade colonial”, (2011, p.58).
Comunga dessa concepção Vânia Moreira, “sempre importante resgatar a crítica
feita por John Monteiro sobre o que ele definiu como a “crônica da extinção”.
Isto é, a tendência a resumir a história dos índios aos processos de dizimação
e extinção”, (2010, p.05). Ao escrevemos sobre história indígena é preciso
estamos atentos a tais sugestões apresentados pelos autores, de modo direcionem
discussões que aborde esses sujeitos presentes na história.
Do exposto nas
entrelinhas, é supracitado o lugar dos índios na história, espaço e
tempo, e o dialogo constante com a nova história5, isto é: os
investigadores abandonaram teorias pessimistas que alegam ao indígena o
desaparecimento, e incluí-los aos estudos acadêmicos/ os
rediscutindo/interpretando e traduzindo as fontes que falam sobre eles nos
espaços principais na construção do conhecimento. Diante de tais acepções,
objetivo deste artigo é narrar o lugar do índio na história do Brasil,
particularmente o índio da colônia São Pedro do Pindaré- Maranhão. Como veremos
adiante.
5 Para melhor compreensão ler: BARROS, D’assunção José.
A Nova História Cultural – considerações sobre o seu universo conceitual e seus
diálogos com outros campos históricos. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoshistoria/article/viewFile/987/2958/
acessado em 14 de abril 2014.
UNIVERSO DE PESQUISA
Iniciamos nossa
pesquisa no Arquivo Público do Estado do Maranhão, que resguarda um largo
arcabouço documental oriundos do século XIX, especifico do Diretório de índios.
O nosso interesse está direcionado para fontes que discorrem sobre a formação
da colônia São Pedro do Pindaré em meados de 1842 a 1881. Na ocasião apresentaremos nesse trabalho um breve apontamento desta colônia, esboço
de tempo/ 1842 a 1855. No sentido de aprofundarmos sobre as discussões
teórico-metodológicas que devemos direcionar a escrita dissertativa, no qual
estamos desenvolvendo. O cerne central deste é observamos as vozes indígenas
colonizadas por diretores e missionários, documentos arroladas por nós.
As fontes documentais até aqui transcritas, em sua multiplicidade,
correspondem aos ofícios enviados pelo diretor desta Colônia, São Pedro do
Pindaré, Jacintho José Gomes enviadas para o Presidente da Província em meados
de 1842 a 1855. São os relatórios que dissertam a respeito do estado financeiro
da colônia e as atividades exercidas pelos índios, diz respeito, a educação e
catequização dos “selvagens”, como eram chamados os indígenas Guajajara, do
tronco tupi, que viviam as margens do rio Pindaré por Jacintho José Gomes e os
demais diretores que administraram essa colônia. Esboçaremos adiante sobre
esses sujeitos citados no corpo do texto.
COLÔNIA SÃO PEDRO DO
PINDARÉ-MA
A Colônia São Pedro do
Pindaré é resultado da aldeia Adega Grande de São Lourenço de Barbados, fundada
em 1758, sendo a primeira aldeia no Maranhão Império. Ao ser elevada a
categoria Colônia em 1840, concretizou-se a primeira tentativa de missão
indígena no Maranhão, objetivando facilitar as navegações pelo rio Pindaré6,
uma vez que os índios Guajajara habitantes nas margens desse rio tornavam o acesso
e o trânsito dos não indígenas arriscadíssimo, pois os índios atacavam as
embarcações. Na busca de superar tal situação, o então Presidente da Província,
o Marquês de Caxias, ordenou que se fundassem uma Colônia a direita do dito
rio, com o nome São Pedro do Pindaré, sob as ordens do Diretor Tenente Coronel
Fernando Luís Ferreira. Entretanto, o que de fato pretendia com a elevação
desta aldeia a categoria de Colônia, era evitar que os índios se associassem
aos revoltosos da Balaiada7, visto que, as principais lideranças
desse movimento estavam próximas daquela região. A construção desta colônia se
dá pelo projeto Imperial, com o objetivo de formar a primeira missão indígena
na Capitânia Maranhão:
Em 1840, concretizou-se a primeira tentativa
de implantação de uma missão indígena no Maranhão. “Com fim de facilitar a
navegação do rio Pindaré, que os indígenas tornavam arriscadíssimo pela guerra
que faziam a tripulação dos barcos que nele navegavam, como também com intuito
de melhorar a segurança da vida e propriedade dos fazendeiros estabelecidos nas
margens deste rio, e, mesmo para dar novo impulso à civilização dos índios,
ordenou o então Presidente da Província, o marquês de Caxias, a fundação de uma
colônia assentada na margem direita do dito rio, com a denominação de São Pedro do
Pindaré. Esta colônia foi organizada pelo tenente –coronel Fernando Luís
Ferreira , com apoio do Governo ( COELHO apud MELLO, 1990,p. 95).
A nossa hipótese de participações de índios Guajajara no movimento da
Balaiada toma direção a partir das reflexões de Elizabeth Coelho, autora da
citação acima. A mesma havia realizado um estudo da colônia São Pedro do
Pindaré, embora que timidamente, mas esboça no corpo do seu texto, que o
governo do Maranhão pretendia evitar que os indígenas da região do rio Pindaré
se associassem aos revoltosos da Balaiada como discutido anteriormente, visto
que, esses grupos ficavam próximos a esta região. Em nossos documentos até o
prezado momento analisados não encontramos falas que expusessem tal afirmação
de Elizabeth Coelho, todavia, não excluímos tal conjectura, compreendemos que
por trás do discurso da missão religiosa existiam interesses políticos no
encalço dos indígenas para convívio na colônia. Como foi constatado no
relatório do presidente Marquês de Caxias, que certificava a importância
ordinária das criações de colônias no Maranhão, a fim de desenvolver regiões
abastadas da capital, inserindo os indígenas no trabalho da agricultura e
serviços públicos: carpinteiro, pedreiro e soldado. De acordo com o Marquês
Caxias, essas medidas propositava resgatar o selvagem da vida desgrenhada de
leis, regras e da ignorância plena. Nessa premissa, examinamos que a colônia
São Pedro do Pindaré foi fabricada no sentido de transformá-la em deposito de
índios, de natureza que submetiam a ela entrada de crianças, mulheres e jovens
indígenas raptadas das aldeias. Com o intuito de serem catequizadas e
civilizadas de acordo com (Regulamento das Missões de Catequese e Civilização
dos Índios, Dec. nº 426 de 24/06/1845), assim restabelecidos para o convívio
com os demais da população. Em outro momento constatamos que o trabalho
indígena era bastante utilizado pelos diretores da colônia, uma vez que,
sobrevivência desta, procedia da lavoura de subsistência. Porque os produtos
enviados pelo Governo desvelavam de armamentos, vestuários e ferramentas para
agricultura e construção de casas para indígenas e colonos.
A função do missionário e diretor, estabelecidos pelo presidente da
Província, baseava-se em ensinar aos índios à língua portuguesa, doutrinando-os
com as regras da Província, e fornecer lhes as ferramentas necessária para o
trabalho na colônia. Além de educa-los enquanto pessoas civilizadas. O
regulamento expedido sobre a criação das colônias no Maranhão lei provincial
nº8587, estipulou que em alguns casos na falta de missionário ou diretor, ambos
exerceriam a mesma função ao mesmo tempo. Entendemos nesse sentido, que a falta
de missionários na província não impedia a educação “religiosa”, embora no caso
da colônia São Pedro do Pindaré tenha sido um fracasso o exercício da
catequização dos indígenas por não eclesiásticos.
Destarte o governo deliberou
as instancias das diretorias parciais de índios a contratarem missionários para
as colônias estabelecidas no Maranhão no empenho que estes religiosos
Capuchinhos9 atraíssem os “índios errantes” para a colônia com seu discurso
manso e aptidão de “brandura” para com a conversão indígena. Desintegrando o
fulcro cultural, consequentemente procurando domesticá-los e convidando/s- a se
retirarem de suas aldeias para o convívio com a sociedade, dispondo presentes:
machado, inchadas, roupas e etc, em barganha da paz entre índios e não índios
Por conseguinte os religiosos (diretor) conquistando relações de “amizades” com
os indígenas. Não obstante estudamos nos ofícios de Jacintho José Gomes em
meados 1842 a 1850 enviados ao presidente da Província Olímpio Machado, de queixas
e desânimos a cerca das astucias dos indígenas, que após apropriação dos mimos
doados pelo governo, é uma breve passagem pela colônia, logo fugiam, e levavam
os pertences e furtavam também as roupas dos moradores. Nesse caso, o que
outrora parecia fácil na conquista dos aborígenes por brindes para o convívio
em civilidade, conforme o exposto no ofício, a posteriori regressou-se em caos
para os diretores, já que estes aprenderam a receber os presentes, usufruíam
desses objetos e furtavam outros da comunidade. No contexto geral do ofício,
notamos a preocupação deste diretor com as formas errantes da vida indígena
autóctone, que não compreendiam que o ato de furtar os objetos prescrevia
contra as leis da nação, e que eles deveriam ser castigados para exemplar os
demais Guajajara. Verificamos na documentação que ocorreram casos de Guajajara
a fugirem várias vezes da colônia, os mesmos voltavam em busca de mais
lembranças.
Seguidamente de dois anos da criação da colônia São Pedro do Pindaré,
período fértil, em que se afirmava o êxito da colônia, em consonância do
crescimento demográfico indígena e o sustento da colônia a partir do trabalho
indígena. O Governo em 1854 com base no “Regimento das Missões” (Regulamento
das Missões de Catequese e Civilização dos Índios, Dec. nº 426 de 24/06/1845)
que propôs as regras da política indigenista oficial, em que era estimulada a
integração dos grupos indígenas à sociedade do período. O “Regimento” por sua
vez, incorporou as propostas existentes nos Apontamentos para a Civilização dos
Índios bravos do Império no Brasil, baseados nesse regimento, de modo que
resolveu fundar mais duas missões a margem do rio Pindaré, Januária e
Leopoldina, afim de, encurralarem todos os povos ameríndios da margem deste rio
a missão indígena, mas por hora não discutiremos neste artigo sobre estas duas
colônias.
Outra questão a ser supracitada é o lugar do indígena na província, no
relatório do Presidente Olímpio Machado, em 25 de Julho de 1854, ficou
estabelecido pelo Governo Imperial, o lugar do índio na conjuntura Imperial,
diz que: as relações pacíficas entre índios e colonos, deveriam calhar acima da
convivência dos aborígenes, isto é, que as missões auxiliariam a paz ou a
guerra entre eles, e que após catequização e educação desses sujeitos o estado
empregaria uma profissão, no engajamento em obras públicas, em que receberiam
um salário irrisório por seus serviços. Nessa perspectiva, denotamos o fiel
interesse do diretor da colônia de São Pedro do Pindaré pelo constante
crescimento da população indígena, modo que, apresentara para Governo Imperial
que estava cumprindo sua função, capturando esses selvagens para o convívio com
a civilização, assim disponibilizando para o Maranhão mão de obra “indígena”.
Como observamos nessa fala o êxito da vinda de mais indígenas das aldeias do
Alto Pindaré:
Tenho a honra de levar a conhecimento de V. Ex as ocorrências desta Colônia desde o meu inteiros comando. Venho primeiro comentar que chegarão das aldeias do alto Pindaré cinco capitães com cinquenta e sete índios e seis índias. Jacintho José Gomes, Diretor da Colônia São Pedro do Pindaré da Província Maranhão, fevereiro de 1855.
8 SOUSA, Joaquim Silvae.
Falla com que o Exmº presidente abriu a sessão do conselho Geral da Província.
01 dez, 1832. In: Farol maranhense. São Luís, 03 dez. 1832.
9A ordem Capuchinha e
formada por Frades da família franciscana. Surgiu em 1525 na Itália. Os
Capuchinhos se instalaram inicialmente no Brasil1642. Para melhor reflexão ver:
D’EVREUX, Yves. Viagem ao norte do Brasil: Feita nos anos de 1614 a 1614.
Traduzida por César Augusto Marques. São Paulo: Sciliano, 2002.
A citação acima foi
extraída do oficio de Jacintho José Gomes, diretor da Colônia São Pedro do
Pindaré, para o Presidente da Província do Maranhão, João Antônio de Miranda em
fevereiro 1855. Corresponde ao relatório sobre os acontecimentos desta colônia,
especificamente a chegada de novos índios. De antemão, percebemos a escrita
calorosa, no qual expunha o crescimento da colônia em sua administração e a
chegada de novos índios, disso resultaria do aumento significativo da verba
doada pelo governo para o desenvolvimento da colônia/ conversão dos aborígenes.
Cabe aqui, destacamos
quem eram os “índios selvagens” relacionados nos ofícios e relatórios para a
Província, trata-se do povo Tenetehara, mas popularmente conhecidos e descritos
nesses documentos analisados por nós, por Guajajara. Formam o povo do tronco
tupi-guarani, situados as margens do rio Pindaré, conceituados nos documentos
por errantes, selvagens e incivilizados. Foram colonizados em seis
colônias, São Pedro do Pindaré, situada à margem direita do rio Pindaré, cerca
de seis léguas acima da Vila Monção10, Leopoldina, Januária,
Aratauhy Grande a margem do rio Grajaú; Palmeira torta entre os morros do rio
Grajaú e Dois braços na cidade Barra do Corda11. Preliminarmente são
essas as informações que sabemos sobre os Guajajara no século XIX, pois estamos
perscrutando as fontes com objetivo de escutamos as vozes indígenas nas
entrelinhas dos documentos.
A formação dessa
colônia correspondeu a um período que interessava a política indigenista,
devido ao fracasso das relações pacíficas com os índios, iniciando uma faze
caótica. O trato com estes se dava na tentativa de incluí-los a massa geral da
população, assim exterminando suas práticas socioculturais que violavam a
civilização. Nas discussões de Elizabeth Coelho acerca da colônia de São Pedro
do Pindaré, na qual, analisa as relações conflituosas entre índios e
missionários, a escritora aponta que o trabalho na lavoura era de
responsabilidade do indígena, forçados pelos diretores. Sendo este um dos
possíveis motivos de fugas continuas para as aldeias. Guiando-nos nessa
argumentação, pensamos que a vida do indígena na colônia São Pedro do Pindaré
não foi simples e aconchegante, como alegado pelos diretores. Em razão disso,
examinamos em nossa dissertação os ofícios, narrativa que expunha os castigos
físicos nos nativos e as decorrentes fugas organizadas por eles. Por isso
percebemos que a Colônia São Pedro do Pindaré, bem articulada pelo Governo
Imperial, tornou-se o maior cárcere ao campo aberto para os Guajajara.
10Corresponde a vila que administrava as
colônias a margem do rio Pindaré.
11Informações do conselho missionário
indigenista/povos indígenas no Maranhão-1988.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como transcorrido ao
longo do texto, é importante perceber que as relações com os indígenas as quais
os diretores e presidentes acreditavam que seriam pacíficas, tornaram-se uma
contradição interna na missão indígena. É o processo de descaracterização das
populações indígenas, se organizavam e assim violando seus direitos a terra.
Como expões a Coelho:
Nos
primeiros anos do Império, algumas vozes lamentaram-se em defesa dos
territórios indígenas em nome da legitimidade de suas posses. Entretanto, até
meados do século, a posição das populações indígenas fase à questão
territorial, ficou firmemente delineada. Se antes o confisco das terras
indígenas ocorria de forma indireta, via descimentos, sistema de diretórios, a
partir da Lei nº 601 de 1850, esse esbulho passou a ser explicito (1990.p.207).
Como supracitado acima,
percebemos em todo corpo documental a preocupação constante do estado em
retirar esses indígenas das aldeias, desapropriando suas terras, para que os
colonos (latifúndio) tivessem livre passagem ao território indígena. Além de
proporcionar precarização do trabalho indígena, conforme iam sendo incluídos na
civilização. O projeto hegemônico da missão indígena garantia a livre expulsão
dos indígenas de seus territórios, escravização velada do indígena, com medidas
civilizatórias.
Portanto marcando o inicio do esbulho das terras indígenas,
apresentando ao índio a nova sociedade, “[...] os índios eram tratados, quase
sempre, de forma genérica, escamoteando-se as especificidades de cada grupo”
(COELHO, 1999, p. 209). No Maranhão Provincial foi marcado pela fraca tentativa
do extermínio indígena, pois administração era incompetente, sendo negativo
para organização das colônias indígenas. Para os índios isso foi essencial na
luta pela sobrevivência e articulação política com outros grupos étnicos.
Para tanto é o que
temos a respeito da Colônia São Pedro de Pindaré, com base nisso, teremos como
principal intuito viabilizar o estudo dessa colônia na perspectiva do amplo
campo do lugar do índio na história, que nos permitirá contextualizar cada um
deles em sua diversidade cultural e pontos de vista acerca do processo
histórico que gerou diferentes olhares sobre o tema que será nosso foco. É
preciso lembrar, nesse aspecto, que não foram apenas os indígenas, desde o
início da colonização, os únicos a constituírem a sua história. Por isso, não
dispensaremos os importantes relatos: de diretores desta colônia, presidentes da
Província do Maranhão e missionários, que entre outras coisas poderão nos ser
de grande valia na interpretação e melhor entendimento dos documentos que
estamos examinando.
REFERENCIAS
ALMEIDA, Maria Regina
Celestino. Os índios na História do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGC,
2010.
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identidade e cultura nas aldeias colônias do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
editora FGV, 2013.
COELHO, Elizabeth Maria
Bezerra. Políticas Indigenista no Maranhão Provincial. São Luís, Sioge,
1990.
LE GOFF, Jacques. História
e Memória. Campinas: Editora da UNICAMP, 2008.
LEI nº 1228 de 19 abr.
1881.In: Colleção de leis da Província do Maranhão.
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Maranhão. In: Regulamento e decisões de 1873. São Luís, 1873.
MONTEIRO, Jonh. Negros
da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo:
companhia das letras, 1994.
”Armas e
armadilhas”: Em: Novaes, Adauto (org). A outra margem do ocidente, São
Paulo: Companhia das letras, 1999.
MOREIRA, Vania. O
ofício do historiador e os índios: sobre uma querela no Império Revista
Brasileira de História. São Paulo, v. 30, nº 59, p. 53-72 – 2010.
VARNHAGEM, Francisco
Adolfo. História geral do Brasil. São Paulo: melhoramentos, 1854.
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