O rio Pindaré integra o conjunto de cursos
fluviais que desaguam no Golfão Maranhense, utilizados historicamente pela população,
ao longo dos processos de ocupação e povoamento do território norte
maranhense. Neste contexto foi edificada a cidade de Pindaré-Mirim, localizada às margens
do rio Pindaré, que se utiliza das águas
do rio para usos diversos em que incluem
o sustento, transporte e lazer. Com
o crescimento populacional, o ambiente fluvial
vem sofrendo impactos
negativos que interferem na qualidade ambiental e de vida. No presente estudo,
analisa-se a percepção dos moradores
em relação aos problemas ambientais e sanitários na área
urbana ribeirinha de Pindaré, com base no diagnóstico socioambiental, procurando identificar tais problemas especificamente no bairro
Beira Rio. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa e qualitativa. Foram aplicados questionários com 103 famílias, tendo como critério
de inclusão morar há
mais de cinco anos no bairro. Os dados coletados
foram analisados por meio de estatística descritiva; os dados qualitativos, mais representativos, foram
expressos através das falas
dos informantes. Utilizou-se uma matriz de inter-relação homem e
ambiente e registros fotográficos. Os problemas mais
citados foram identificados nas falas dos informantes que apontaram os impactos negativos relacionados ao esgoto
a céu aberto, acúmulo
de lixo e o rio contaminado. De forma similar
a matriz de inter-
relação identificou as modificações ambientais e na qualidade de vida do
bairro. Conclui-se que os
impactos ambientais e sanitários identificados são de responsabilidade dos moradores e poder público,
sendo necessário o planejamento
integrado dos mais diversos setores
e atores sociais
para resolução dos problemas.
Palavras-chave: População Ribeirinha;
Ambiente; Saneamento; Pindaré Mirim-MA.
INTRODUÇÃO
Dentre os vários
problemas sociais e ambientais surgidos
ao longo dos anos, o crescimento desordenado, a degradação do meio e a falta
de políticas públicas se destacam como fatores
constituintes dos inúmeros impactos negativos. Considera-se esta realidade
proveniente de modelos
econômicos insuficientes para
o bem-estar da população, gerando sérias consequências na qualidade de vida e ambiental de uma sociedade.
Na Conferência Pan-Americana sobre Saúde e Ambiente no
Desenvolvimento Humano Sustentável, realizada
em Brasília no ano de 1995, comentou-se sobre a relação dos sistemas
econômicos e segmentos
sociais:
Os
modelos econômicos, adotados ao longo da história pelo Brasil, têm provocado fortes
concentrações de renda
e riqueza, tendo
como consequência o aumento da disparidade entre segmentos sociais.
Dessa distribuição desigual resulta grande parte dos problemas que o País enfrenta. Ao mesmo tempo em
que esses padrões de desenvolvimento esmagam a dignidade humana,
elitizando os bens que garantem o pleno desenvolvimento da qualidade de vida e seu
estado de saúde, aumentam a potencialidade e a diversidade de impactos ambientais negativos por meio da exploração predatória de recursos naturais e da poluição (BRASIL, 1995, p. 13).
Um dos maiores
desafios do nosso
País está relacionado com o crescimento da população humana proveniente do acelerado processo
de urbanização, pois segundo os dados do IBGE (2010),
84,35% dos brasileiros habitam as cidades. Esse crescimento populacional “ocorrido, principalmente nos últimos
trinta anos, tem produzido impactos significativos na própria população
e no ambiente, reduzindo a qualidade de vida e degradando os recursos naturais” (TUCCI, 2010).
Os impactos do crescimento populacional estão relacionados principalmente com a ausência de saneamento nos municípios. Conforme
o IBGE (2011, p. 01), dentre os impactos ambientais “destaca-se a falta ou à
precariedade do saneamento, tais como: poluição ou contaminação na captação de água para
o abastecimento humano,
poluição de rios e lagos, doenças,
erosão acelerada, assoreamento, inundações frequentes, com as consequentes
perdas humanas e materiais”.
O Estado do Maranhão não se distancia da realidade
supracitada. Mesmo possuindo uma diversidade de ecossistemas e grande riqueza
de bens naturais, os recursos ambientais
disponíveis têm sofrido grandes modificações diante do acelerado e desordenado
crescimento populacional e da apropriação por uma pequena parcela da população.
A cidade de Pindaré-Mirim, alvo deste estudo, sofreu ao longo
dos anos, entre o apogeu e o declínio econômico, passando por mudanças
em seu espaço geográfico. Seu povoamento originou-se de habitantes vindos
dos estados do Piauí e Ceará, devido
à instalação da Companhia Progresso Agrícola na região do
Pindaré, dedicada principalmente à lavoura de cana, sendo o rio Pindaré,
fonte de riqueza
e vida do povo pindarense e principal meio de escoamento da produção da lavoura de cana na região.
Os moradores da região utilizam
o rio Pindaré para múltiplas
finalidades, como o consumo
da água, a pesca como fonte econômica, a agricultura de subsistência tendo o
cultivo de arroz
como principal produto, o lazer, os festivais e até mesmo
como ponto turístico. Mas
algumas práticas têm causado sérios problemas no rio, como o desmatamento das matas ciliares
para plantio de arroz e melancia.
Sobre este tema, de Philippi e
Malheiros (2005, p. 02) afirmam que as modificações ambientais provocadas pelas
atividades humanas que alteram “significativamente os ambientes naturais,
poluindo o meio ambiente físico,
consumindo recursos naturais sem critérios adequados, aumentam o risco de exposição a doenças e atuam negativamente na qualidade de vida da população”.
A sociedade e seu ambiente
não podem ser
vistas de modo
indissociável pois a relação entre o homem e o ambiente que
vêm sendo discutidas “pelas autoridades
internacionais desde o início do século XX, através das Conferências das Nações Unidas (ONU) e outras reuniões que unem as pessoas instituídas de poder para
zelar pelas nações” (ADDUM, 2011, p. 959).
No presente estudo analisa-se a percepção dos
moradores em relação aos problemas ambientais
e sanitários na área urbana ribeirinha de Pindaré, com base no diagnóstico
socioambiental, procurando identificar tais problemas especificamente no bairro Beira
Rio, destacando as alterações mais
significativas para a qualidade da vida da população e contribuindo com resultados que possam
subsidiar programas de desenvolvimento social e sustentável.
ÁREA DE ESTUDO
O município de Pindaré-Mirim localiza-se na mesorregião
Oeste Maranhense, possuindo uma área de 275,0
km². Sua população é de 30.927
habitantes. Foi criado pelo
decreto-lei estadual nº 820, de 30 de dezembro de 1943, desmembrado de Vitória do Mearim. Possui as coordenadas: S 03° 36‟ 30''; W 45° 20'
36'' (IBGE, 2007).
O bairro Beira
Rio constitui uma microárea localizada na área urbana
à margem direita do rio Pindaré
(Figuras 1 e 2), formada
por 107 famílias dentre as 578
cadastradas no município, que representam 7% (2.166) da população cadastrada, dos quais 49,45%
são homens e 50,55% são mulheres (DATASUS, 2012).
Figura 1 – Localização do bairro Beira Rio, cidade de Pindaré-Mirim – MA Fonte: Satélite LANDSAT, INPE, 2009
REFERÊNCIAS
NASCIMENTO,
M. S. V. [et al.].
Análise bacteriológica da água no estado do Piauí nos anos
de 2003 e 2004. Rev. Higiene
Alimentar, São Paulo,
v. 21, n. 151, 2007.
Disponível em: <https://goo.gl/6kUABY>. Acesso em: 13 mar.
2016.
Larissa Nascimento Barreto
Felipe Morais Addum
Antonio Cordeiro Feitosa
Zulimar Márita Ribeiro
Rodrigues
Figura 2 – Vista aérea da delimitação do bairro Beira Rio, Pindaré-Mirim – MA Fonte: Google Earth, 2011.
O clima da região é do tipo úmido, com duas estações
bem definidas: uma seca e uma
chuvosa, ambas com duração média
de seis meses
cada; a temperatura média anual é de 26ºC e a precipitação anual média varia
de 1200 – 1600 mm. O clima é quente
na estação seca e mais ameno no período
de chuvas. O solo é caracterizado como Latossolo
Amarelo e Podzólico Vermelho Amarelo.
A cobertura vegetal
é classificada como Floresta
Ombrófila Densa (ATLAS DO MARANHÃO, 2002).
O rio Pindaré
é o principal afluente do rio Mearim;
nasce nas elevações
que formam o divisor
de águas das
bacias hidrográficas dos rios Mearim
e Tocantins. Seu percurso total
é de aproximadamente 686 km. Sua bacia
tem aproximadamente 44.400
km² de área e ocupa a parte centro-ocidental do estado do Maranhão em uma região
de Pré- Amazônia
(BACIAS DO NORDESTE, 2000).
METODOLOGIA
A pesquisa possui concepção teórico-metodológica
integrada, agregando questões vinculadas
às dimensões econômica, social e ambiental, configurando uma abordagem exploratória e descritiva conciliada com a pesquisa bibliográfica e análise de dados
quantitativos e qualitativos.
Para Zikmund (2000), os estudos exploratórios, geralmente,
são úteis para diagnosticar situações, explorar alternativas ou descobrir
novas ideias. Esses trabalhos são conduzidos durante
o estágio inicial
de um processo de pesquisa
mais amplo, em que se procura esclarecer e definir a natureza
de um problema e gerar mais informações que possam ser adquiridas para
a realização de futuras pesquisas conclusivas.
Para Cervo e Bervian (2002),
“a pesquisa descritiva pode assumir diversas formas, sendo uma delas a „pesquisa de opinião‟ que procura
saber atitudes, pontos de vista e preferências que as pessoas têm a respeito de
algum assunto, com o objetivo de tomar decisões”. Esta modalidade visa a identificar falhas ou erros,
descrever procedimentos, descobrir tendências, reconhecer interesses e outros comportamentos.
A utilização de metodologia qualitativa e quantitativa,
segundo Minayo (2005), refere a uma investigação por triangulação de métodos, em que o conjunto de elementos e procedimentos propostos é muito mais amplo
e complexo, com enfoque interdisciplinar, pois coaduna
a presença do pesquisador externo,
as abordagens quantitativa e qualitativa ainda analisam o contexto, a história, as relações, as representações e participação.
Realizou-se inicialmente o levantamento bibliográfico de
pesquisas com temas socioambientais contidos em livros e artigos, buscando
ampliar a visão
acerca do assunto. Para obtenção dos dados dos principais problemas ambientais e sanitários da população,
foi realizada a aplicação de questionários à população ribeirinha do bairro
Beira Rio, atendida pela Estratégia Saúde da Família
(ESF), com o objetivo de captar informações populares da região sem a influência do entrevistador nas respostas.
Na aplicação, foi necessário observar e registrar as relações do homem com o meio ambiente na visão da população local,
identificando os fatores
que são designados como
problemas ou benefícios desta relação.
Os questionários foram
aplicados com 103 famílias
do bairro, tendo 4 famílias ausentes durante a pesquisa de campo que foi
realizada nos meses de março e
abril de 2012. Optou-se por entrevistar apenas um membro de cada família, sendo
o critério de escolha o tempo de residência na área com o requisito de mais de 5 anos, devido
à experiência na região.
Os dados foram formatados e processados em planilha do
programa estatístico JMP versão 3.2.6 e analisados por meio de estatística
descritiva de frequência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Relação
da população ribeirinha com o ambiente
A relação da população pindareense com o rio Pindaré começou
desde a chegada do Engenho
Central em 1980,
devido ao desenvolvimento econômico na região
com a lavoura de cana. A Companhia agrícola
se preocupou em adquirir os terrenos da extinta
colônia de São Pedro à margem direita do rio Pindaré, hoje, atual bairro
Beira Rio (NASCIMENTO, 2012).
O homem se insere nas regiões ribeirinhas pelo sustento que elas oferecem através da água, fauna
e flora. Assim
como o rio Pindaré, que serve de suporte para a população do bairro Beira
Rio, existem outros
rios maranhenses que participam desta
relação homem e ambiente.
Observou-se a inter-relação entre ribeirinhos e o meio
em que vivem. A população que é urbana, mora às margens
do rio Pindaré, utilizando-o para múltiplas finalidades, como o consumo doméstico da água, a pesca como
fonte econômica, a agricultura de subsistência baseada
no cultivo de arroz como principal produto,
o lazer, os festivais e até
mesmo como ponto turístico e via de transporte, o que é evidenciado nas falas dos moradores:
Entrevistado 1: “A gente
usa o rio pra pescar
e panhar água
pra lavar as louças,
banhar quando falta
na torneira”.
Entrevistado 2: “Quando falta
água, pega do rio”.
Entrevistado 3: “É um lazer
que nós têm”.
Perfil socioeconômico dos entrevistados
Das pessoas entrevistadas, 48,54% possuem idade
entre 20 a 40 anos;
29,12% estão na faixa etária de 40 a 60 anos e o restante
acima de 60 anos. Quanto à origem dos
informantes,
36,0% das pessoas
moram há mais
de 20 anos no bairro,
período este em que
houve a entrada
de imigrantes em Pindaré-Mirim. Logo,
registrou-se que 71,9% da
população ribeirinha não são nativas
(Tabela 1), sendo
oriundas de regiões
próximas como Monção e Penalva que migraram para a cidade
em busca de empregos. Pode-se
dizer que esta situação foi um dos fatores que ocasionou a expansão urbana
no bairro.
Dentre os questionários aplicados, 56,31% da população
ribeirinha pindareense têm a pesca como principal ocupação,
tornando-se fonte extrativista na região (Gráfico 1).
É da venda do peixe que homens e mulheres
sustentam suas famílias no bairro. Conforme os dados
do DATASUS (2012),
64,07% dos pescadores estão associados à colônia, que, no entanto, encontra-se desorganizada
estruturalmente. Além destas ocupações,
existem outras atividades que auxiliam na renda da população, como agricultura,
comércio e confecção de redes de pesca. Vale
ressaltar que a aposentadoria e a
bolsa família foram citadas pelos moradores quando da pergunta sobre a ocupação
da população, registro este que demonstra a falta de conhecimento sobre
a classificação das atividades produtivas.
Tabela 1 – Frequência de imigrantes no bairro Beira Rio,
Pindaré-Mirim – MA
MUNICÍPIO
|
Nº PESSOAS
|
%
|
Araioses
|
1
|
1
|
Arari
|
1
|
1
|
Bacabal
|
1
|
1
|
Cajari
|
8
|
7,7
|
Laranjal
|
1
|
1
|
Magalhães de Almeida
|
1
|
1
|
Maracaçumé
|
1
|
1
|
Matinha
|
4
|
3,8
|
Monção
|
20
|
19,4
|
Parnaíba
|
1
|
1
|
Pedreiras
|
1
|
1
|
Penalva
|
15
|
14,5
|
Piauí
|
2
|
2
|
Pindaré-Mirim
|
29
|
28
|
Santa Inês
|
2
|
2
|
São João Batista
|
4
|
3,8
|
Viana
|
8
|
7,7
|
Vitória do Mearim
|
2
|
2
|
Não respondeu
|
1
|
1
|
TOTAL
|
103
|
100,0
|
Fonte:
Dados da pesquisa, 2012.
Gráfico 1 – Frequência de ocupação da população ribeirinha de Pindaré-Mirim – MA
Fonte:
Dados da pesquisa,
2012.
Perfil
sanitário e da saúde da população
Uma das observações relevantes sobre o bairro foi quanto à
infraestrutura das moradias, elemento fundamental para o bom estado social e
sanitário da população e importantíssimo na avaliação da qualidade de vida. As moradias são construídas de palha,
adobe, alvenaria, mas a maior
predominância são as casas com paredes de taipa (42,71%)
e cobertura de telha
(69,99 %) (Figura
3). As péssimas condições de moradias da população
ribeirinha devem-se à baixa renda dos moradores.
Figura 3 – Moradias no bairro Beira Rio, Pindaré-Mirim – MA Fonte: Dados da Pesquisa, 2012.
Um dos problemas sanitários mais citados foi o lançamento de esgotos in natura
no rio. Segundo os informantes, 70% da população ribeirinha despejam
seu esgoto a céu aberto, drenando para
o rio (Gráfico 2). Quanto ao destino do lixo, é enterrado ou queimado por 60,19% das pessoas (Gráfico 3), alegando dificuldades de acesso dos agentes
da limpeza pública às ruas do bairro
para a coleta pela prefeitura. Isto é ilustrado nas falas dos moradores ao se expressarem acerca dos problemas investigados:
Entrevistado 4: “A rua não
tem esgoto”.
Entrevistado 5: “A gente
faz rego. Vem o carro
do lixo que não
entra na rua, só vai até lá em cima”.
Entrevistado 6: “Queimo no
verão”.
Gráfico 2 – Destino do Esgoto no bairro Beira Rio, Pindaré-Mirim – MA Fonte: Dados da pesquisa, 2012.
O rio Pindaré
sofre com o lixo e esgoto depositados em suas margens
e no leito. Em épocas de enchentes, o lixo do centro da cidade também
desce para o rio, que se torna um ambiente de descarga doméstica.
Caldas (2004), tal como neste estudo, chegou ao mesmo resultado na microbacia do rio Magu-MA, identificando que a maioria das pessoas
na região tem ao fundo
do terreno de suas habitações o rio, onde
se encontra grande quantidade de lixo em suas margens.
A população ribeirinha está situada em uma área insalubre. A maioria dos quintais
das residências está cheio de lama e tem servido
de depósito para o lixo e efluentes domésticos (Figura
4), pois o bairro não possui coleta de lixo e nem rede de esgoto, assim como muitos municípios do Estado do Maranhão. Isto
pode ser observado nas falas:
Entrevistado 7: “O meu esgoto é jogado no buraco, entope
no inverno e tem que cavar outro”.
Entrevistado 8: “ É feito uma vala no quintal para
escorregar”.
Figura 4 – Quintais das residências com lama e depósito de efluentes domésticos e lixo, bairro Beira Rio
Fonte: Dados da Pesquisa, 2012.
Em relação à saúde, a população do bairro Beira
Rio faz parte
da Estratégia Saúde da Família
(ESF) de Areias,
povoado a 5 km do bairro, mas a população é atendida por dois agentes de saúde
e pelo hospital do município. De acordo com os entrevistados, 54,36% procuram
atendimento no hospital uma ou duas
vezes por mês,
46,60% não o procuram, só utilizam quando
estão muito doentes
ou preferem realizar
a automedicação, o que se depreende da fala dos entrevistados:
Entrevistado 9: “Só vou quando estou
muito doente”. Entrevistado 10: “Não vou,
compro remédio”.
Dos informantes entrevistados, 83% reclamaram do atendimento no hospital, do número reduzido
de agentes de saúde e da falta
de um posto no bairro,
pois, apesar de pertencerem à unidade de
saúde de Areias, a longa distância prejudica o atendimento. Segundo os entrevistados, no período chuvoso
a situação piora,
pois muitos não possuem
canoa para o transporte até o hospital
no centro da cidade. Isto se depreende
das falas de como gostariam que o trabalho da saúde fosse
desenvolvido na região:
Entrevistado 11: “Se que eles colocasse um posto aqui
seria bacana pra
todo mundo”.
Entrevistado 12:
“Gostaria que fosse
mais ativo, mais
profissionais na rua”.
As doenças mais citadas foram diarreia, gripe e febre (70%) e verminoses (30%) (Tabela 2). De acordo
com o relatório da OMS (2007), pode-se
dizer que estas
patologias apresentadas em Pindaré-Mirim com maior frequência estão relacionadas com a poluição ambiental proveniente da falta de saneamento básico
na cidade.
Tabela 2 - Frequência das doenças no bairro Beira Rio,
Pindaré-Mirim - MA
DOENÇAS
FREQUENTES
|
|||
< 10%
|
10-30%
|
40-60%
|
70-100%
|
Dor de
garganta
|
Verminoses
|
Diarreia
|
|
Pressão
Alta
|
Gripe
|
||
Dengue
|
Febre
|
||
Dor de
cabeça
|
|||
Coração
|
|||
Tuberculose
|
|||
Micoses
|
|||
Tosse
|
|||
Sinusite
|
|||
Malária
|
Fonte: Dados da Pesquisa, 2012. .
Dados semelhantes a este estudo foram encontrados na
pesquisa de Conceição (2008) na avaliação socioambiental da sub-bacia do rio Boa Hora, no município de Urbano
Santos - MA, onde as doenças mais constantes dos moradores dos povoados amostrados foram diarreia (73%), gripe
e resfriados (19%)
e malária (8%).
Isto se deve
provavelmente à poluição dos
corpos hídricos, ocasionada pela falta de saneamento nos municípios do nosso Estado.
Segundo os moradores, estes casos patológicos ocorrem com maior
frequência em épocas de inundação, quando
associadas ao lançamento de esgoto não
tratado em rios e à disposição inadequada do lixo,
causando sérios problemas sanitários e de saúde pública.
Conforme Nascimento et al.
(2007), as causas
principais das doenças
de veiculação hídrica são microrganismos patogênicos de origem entérica,
animal ou humana,
e a transmissão ocorre
basicamente por rota fecal-oral.
Perfil ambiental da população
Mediante a interação do homem com o ambiente, evidenciada
pela a população pindareense, surgem consequências desta interligação a
partir do excessivo uso de recursos naturais. As mudanças ambientais decorrentes da degradação proporcionam, mesmo que relativamente, uma redução na qualidade de vida e ambiental da população.
A matriz abaixo mostrará algumas
relações do homem e ambiente
com suas possíveis alterações no meio e na qualidade de vida dos ribeirinhos de Pindaré-Mirim:
Quadro 1 – Matriz de relação homem
e ambiente no bairro Beira
Rio, Pindaré-Mirim - MA
AÇÃO
|
RELAÇÃO HOMEM X
AMBIENTE
|
MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS
|
QUALIDADE
DE VIDA
|
|
Positivo
|
Negativo
|
|||
Expansão
Urbana
|
Construção
de moradias
|
Condições insalubres
de habitabilidade;
Falta de
Saneamento
básico
|
Uso
inadequado do solo; Desmatamento; Deposição de lixo no rio; Esgoto a
céu aberto
|
Inutilidade dos recursos
hídricos; Surgimento de doenças
|
Pesca
|
Subsistência e
valor econômico
|
Sobrepesca
|
Diminuição do
estoque; Extinção de
espécies
|
Prejudica a
economia
e a subsistência
|
Agricultura
|
Fonte de subsistência
|
Cultivo
nas margens do rio
|
Surgimento
de erosão; Empobrecimento
dos solos
|
Inutilidade dos solos;
|
Turismo
|
Lazer
|
Falta de
saneamento
básico
|
Poluição
nas margens do rio
|
Doenças
|
Criação de
animais
|
Fonte de subsistência
|
Contato
direto das fezes dos animais com a
população
|
Poluição no rio
|
Doenças,
principalmente no inverno
|
Fonte:
Dados da pesquisa, 2012.
O cenário ambiental transformado pela ação antrópica produz
consequências sobre o próprio homem. Identificou-se através dos moradores que
uma das principais modificações do ambiente e que tem prejudicado a população ribeirinha é a diminuição do pescado na região,
fonte de subsistência.
Os fatores que têm contribuído para redução da fauna ictiológica na área, além
da sobrepesca, é o lançamento in natura de dejetos
sólidos e líquidos
no rio, e a redução
da mata ciliar, a qual fornece
suprimentos alimentares à fauna e proteção ao rio. Está ocorrendo uma
diminuição na oferta
de peixe, a pesca aos
poucos está sendo
prejudicada, pois o nível de água do rio Pindaré torna-se
cada vez menor com a deposição de areia em seu leito, proveniente da retirada de vegetação em suas margens.
A população ribeirinha de Pindaré-Mirim também é afetada
com a erosão nas margens do rio (Figura 5),
ocasionando aos moradores a mudança de suas casas
por causa do alargamento do rio. Eles
almejam o término
da construção do cais pela
prefeitura como solução deste
problema.
Figura 5 – Erosão e assoreamento às margens do rio Pindaré, bairro Beira Rio Fonte: Dados da Pesquisa, 2012.
Outro problema citado
foi o cultivo de arroz,
melancia nas margens
do rio Pindaré, ocasionando desmatamento, e consequentemente, o assoreamento no rio. Farias
Filho e Ferraz
Júnior (2009), em suas pesquisas, mostraram que, na Baixada Maranhense, produtos
como o milho e a melancia são cultivados nas áreas de mata ciliar,
tendo-se, por consequência, o desmatamento e a queima da vegetação.
Salienta-se que estes problemas surgiram
deste o momento da ocupação
nas margens do rio Pindaré na década de 1980, com o uso de recursos
naturais para sobrevivência da população e até hoje repercutem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a realidade da população ribeirinha de Pindaré-Mirim não é
diferente de tantas outras do estado do Maranhão. A falta de cuidados sanitários e ambientais nos diversos municípios prevalece em constante crescimento com a expansão populacional e a falta
de planejamento dentro
das cidades. Faz se necessário enfatizar que a população e o poder público municipal são os maiores
responsáveis pelos impactos ambientais e
sanitários registrados, pois de um lado a população despeja seus resíduos diretamente no ecossistema e, por outro,
o poder público
nada faz para
minimizar os impactos.
O entendimento dessa
questão deverá priorizar um conjunto de ações preventivas e de recuperação da saúde e do meio
ambiente. Dessa forma,
é essencial, para
que se alcance o desenvolvimento
sustentável, o tratamento da questão do saneamento de forma integrada, focando:
1. A redução do impacto ambiental e a consequente melhoria da qualidade de vida;
2. O planejamento de uso e ocupação dos espaços;
3. O investimento em educação, informação e participação para mudança dos atuais
padrões de consumo
e de produção;
4. O investimento no saneamento básico
do município urgentemente;
5. A capacitação do pessoal da saúde para
atuar na área de saúde
ambiental e os professores para atuar na área de educação ambiental;
6. A criação de um programa
municipal de coleta
e tratamento de resíduos sólidos
e líquidos;
7. o apoio financeiro e logístico aos estudos e pesquisas científicas nas áreas sanitária, ambiental, social
e econômica, realizadas dentro do município.
REFERÊNCIAS
ADDUM, F. M. Planejamento local, Saúde Ambiental e Estratégia Saúde da Família:
uma análise do uso de ferramentas de gestão para a redução do risco de
contaminação por enteroparasitoses no município de Venda Nova
do Imigrante. Physis, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, 2011.
ATLAS
do Maranhão/Gerência de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Laboratório
de Geoprocessamento – UEMA. São Luís: GEPLAN, 2002. 44 p.
BACIAS DO NORDESTE. 2000. Relatório
estatístico hidroviário 1998, 1999 e 2000.
Disponível em: <https://goo.gl/tKYj6Q>. Acesso em: 23 abr. 2017. BRASIL. Ministério da
Saúde. Conferência Pan-americana sobre saúde e ambiente no desenvolvimento
humano sustentável. Plano Nacional de
saúde e ambiente no desenvolvimento sustentável. Brasília: MS, 1995. 13 p.
CALDAS, A. L. R. Diagnóstico sócio-ambiental da microbacia do rio Magu-MA. 44
f. 2004. Dissertação
(Mestrado em Ecologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2004.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. ed. São
Paulo: Prentice Hall; 2002.
CONCEIÇÃO, F. S. Caracterização e avaliação sócio-ambiental da sub-bacia do rio
Boa Hora no município de Urbano Santos
- MA. 52 f. 2008. Monografia (Graduação em Ciências Aquáticas) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2008.
DATASUS. Ministério da Saúde. Disponível em:
<http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php>. Acesso: 27 abr. 2017.
FARIAS FILHO,
M. S.; FERRAZ
JÚNIOR, A. S. L. A cultura do arroz em sistema de vazante na Baixada
Maranhense, periferia do sudeste da Amazônia. Rev. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia,
v. 39, n. 2, p. 82-91, abr./jun. 2009. Disponível em:
<https://www.revistas.ufg.br/pat/article/view/4597>. Acesso em: 12 jan. 2016.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores
sociais
municipais, 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/>. Acesso
em: 11 fev. 2016.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Resultados
do Censo 2010. Disponível em:
<http://www.censo2010.ibge.gov.br/resultados_do_censo2010.php/>. Acesso em: 11 fev. 2016.
IBGE – Coordenação de Geografia. Atlas de saneamento. Rio de Janeiro:
IBGE, 2011.
INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais). Satélite LANDSAT. 2009.
MINAYO, M. C. S.; MINAYO-GÓMEZ, C. Difíceis e possíveis relações
entre métodos quantitativos
e qualitativos nos estudos de problemas de saúde. In: GOLDENBERG, P.; MARSIGLIA,
R. M. G.; GOMES, M. H. A. (Org.). O
clássico e o novo: tendências, objetos e abordagens em ciências sociais
e saúde. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2003. p. 117-142.
NASCIMENTO,
M. B. F. 2012. Pindaré-Mirim: uma
cronologia socioeconômica elaborada através da história oral. 2012. Disponível
em:
<http://www.jornalcazumba.com.br/index.php?conteudo=noticia&idconteudo=7829>. Acesso
em: 14 jan. 2016.
OMS. Preventing disease
through healthy environments: towards an estimate
of the environmental burden
of disease. Genebra:
OMS, 2007.
PHILIPPI JR., A. &
MALHEIROS, T. F. Saneamento e saúde pública:
integrando homem e
ambiente. In: . Saneamento, saúde
e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005.
p. 02.
RIBEIRO, E. M. As várias abordagens da família no cenário do programa/estratégia
de saúde da família
(PSF). Revista Latino-americana de Enfermagem, v. 12, n. 4, p. 658-
664, jul./ago. 2004.
TUCCI,
C. E. M. Águas Urbanas: interfaces no gerenciamento. In: PHILIPPI, JR. (Org.). Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora
Manole, 2010. p. 408.
ZIKMUND, W. G. Business
research methods. 5. ed. Fort
Worth, TX: Dryden,
2000.
Fonte de pesquisa para postagem:
DIAGNÓSTICO
SOCIOAMBIENTAL DE UMA POPULAÇÃO RIBEIRINHA URBANA DO RIO PINDARÉ, ESTADO DO
MARANHÃO
Milena Mária
Assunção
Mestra em Saúde
e Ambiente pela
Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
milena.ufma@yahoo.com.br
Larissa Nascimento Barreto
Doutora em Ecologia
pelo Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia - INPA. Professora Associada da Universidade Federal do Maranhão
– UFMA.
Felipe Morais Addum
Mestre em Saúde
da Família pela
Universidade Estácio de Sá. Professor do Instituto Federal
de Educação, Ciência
e Tecnologia do Espírito Santo
– IFES/Colatina.
Antonio Cordeiro Feitosa
Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
– UNESP/Rio Claro. Professor Associado da Universidade Federal
do Maranhão – UFMA.
Zulimar Márita Ribeiro
Rodrigues
Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo
– USP. Professora Associada da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário